Há quanto tempo não a via Srta. Larmes. Mas não posso dizer que senti sua falta!
Sei que um observador alheio à nossa relação pode achar irremediavelmente grosseira minha observação. Mas sei que, mesmo com nossa pouca intimidade, que você me permite este tipo de piada pessoal não é Srta. Larmes?
Quando você aparece fico pensando nos nossos encontros... Vamos dizer... “Contundentes”... Depois eu te esqueço. Depois você some. Depois eu não sinto falta alguma de você. Nem um pouco. Fico feliz, tenho até um certo orgulho bizarro em passar longos tempos sem tuas visitas, tão freqüentes a alguns outros.
E isso já aconteceu algumas vezes não é? Então, Srta. Larmes... Você está se tornando previsível. Previsível como algumas coisas por aqui...
E veja só... Você nunca me esquece! É um sinal de que você me quer bem, não é? Haha! Mentira sua se disser que sim: eu sei que não é isso, você visita a todos, ricos e pobres, jovens e velhos, gente de todo tipo.
Sabe que outro dia escutei uma conversa a seu respeito? Alguém dizendo que você fez um grande bem para ela. Não entendo como pode ser isso.
Não posso negar que me pego lembrando de você vez por outra, mas que fique claro: não são saudades, oh não! Como poderiam ser saudades, não é, Srta Larmes? A verdade é que é sempre o motivo da tua visita que me faz lembrar de você. Bem, para boa entendedora como você estas palavras bastam.
Mas não posso só falar mal de você! Tenho que ceder em um ponto importante aqui: vejamos como você tem um bom gosto para música! Ah Srta. Larmes! Sempre tem "Aquela" música que ouvimos juntos. Aliás, várias "Aquelas" músicas eu diria, e várias vezes as mesmas! Ouvimos até o fim, e depois começamos a mesma música de novo, incrível! São músicas bonitas, Srta. Larmes vou até reforçar: tens bom gosto... Talvez seja sobre isso que a tal pessoa desconhecida estava falando, talvez ela ache isso um bem e talvez fosse a isso que ela se referia...
E veja só isso! Por mais que eu pense que não a verei mais: você vem. E quando vem, faz questão de me refrescar a memória: traz à tona lembranças de todas as vezes que estivemos juntos. De todos os nossos momentos. Momentos nada doces. Não é Srta. Larmes? Momentos por vezes indizíveis... Inefáveis... Inexplicáveis até. Momentos que eu não queria lembrar. Mas lembro. Quando você está presente. E assim você se torna mais previsível ainda, como muitas coisas nesta vida.
Mas enfim, já que está aqui sente e fique à vontade. E pode fazer o que sempre faz, fique até enjoar, depois desapareça.
E eu sei o que você vai dizer agora! Ah sim, eu sei! Você vai sussurrar com aspereza no meu ouvido causando aquela sensação cortante que você causa quando quer, sem sequer se preocupar em esconder seu prazer ao fazê-lo:
– Eu vou embora agora, mas eu vou voltar. – Não é isso que você diz, Srta. Larmes?
E eu respondo num meio suspiro:
- Eu sei. Mas o pior é que você está se tornando previsível como todo o resto.
E mesmo sendo previsível você nunca será uma certeza.
E quer saber de uma coisa? Vá-se embora você! Vá! Insatisfeita mesmo! Que eu fico aqui e sorrio ao perceber que vai demorar a tua próxima visita!
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É cara, a vida não é fácil não, se você acha que a vida é fácil, tá enganado...
